domingo, 27 de novembro de 2016

Novas Fadas

Erico L. Kneubühler







Novas 
Fadas


Volume 1





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Contos:



O Punk e a Vidraça

A Língua Bifurcada

A Noiva de Vermelhos





















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E se cada estória, cada ficção, cada romance, cada teoria, cada roteiro, colocado no papel fosse uma realidade dentro de um universo próprio? E se tais universos se moldassem conforme avançam as palavras? E se o conteúdo de algum de seus livros saísse das páginas e caísse no mundo, que estrago isso poderia causar?

Novas Fadas, um livro de fabulas para adultos, o Escritor está morto e com ele seu manuscrito nunca enviado para uma editora. 




















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O Punk e a Vidraça













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I

Quarta-feira, dia 12/03/2016, 21:50 da noite.
            Winston estava sentado no terraço de um prédio, possuía três andares ao todo, um açougue nojento no térreo, e dois andares de quitinetes de péssima qualidade. Winston estava com as costas apoiadas numa caixa d’água, ele tirou o cinto, tirou um braço da jaqueta, puxou a manga da camisa e afivelou o cinto sobre no bíceps. Tirou do bolso um saquinho lacrado com uma pequena quantidade de heroína, colocou a seringa na boca, segurando pela tampa da agulha. Depositou algumas gramas de heroína sobre uma colher de sopa, estava ansioso, sorria enquanto acendia seu isqueiro e fervia a heroína, o pó branco foi derretendo, se tornando um liquido viscoso e na cor de açúcar queimado, então começou a borbulhar.
            Winston puxou a seringa, cuspiu a tampa enquanto enchia a seringa com os poucos miligramas contidos na colher, ele mordeu o cinto, puxando e apertando ao máximo, forçando as veias, mirou numa veia e a perfurou lentamente, ao sentir que conseguiu, largou o cinto e começou a despejar o liquido em suas veias. Winston olhou para o céu, a noite estava iluminada por uma lua cheia e pelos altos postes, fechou os olhos, o efeito transbordava suas veias.
- “Isso é errado Winston, é errado”
- Foda-se...
Winston apaga por alguns minutos, uma voz o acorda.
- “Você me deve...”
- O que eu devo fazer?
- “Só precisa pegar o dinheiro e quebrar algumas coisas”

Winston se levantou, olhou para o céu, sacou um maço de simon-ritchie e uma caixa de fósforos, fumou um cigarro, dois, três, no quarto, desceu pela escada externa.


Escritório da detetive Shams. quarta-feira, dia 12/03/2016, 22:40 da noite.
               
               Katt terminou um parágrafo e se esticou na poltrona, como um felino, bocejou e se contorceu,
pegou seu chá e bebeu, observou sua mesa, a única coisa que poderia ser considerada fora do 
lugar era uma pistola Kahr P380, preta, com uma mira laser acoplada no guarda mato (Aro 
que envolve o gatilho), a arma estava dentro do coldre. Katt a observou por uns instantes, pois
 o copo sobre a porta copos e apanhou a arma, estava carregada, retirou o pente, era uma 
arma pequena, um modelo de bolso que ela mantinha no coldre preso ao lado do busto, já havia
testado ela algumas vezes, mas nunca precisou atirar em alguém, se orgulhava disso.
- Detetives não são feitos para matar. – Ela murmurou – Mas também não são feitos pra morrer. – Então 
recolocou o pente, engatilhou a arma, ligou a mira e a apontou para a porta, o som era estranhamente 
confortante, pois o dedo sobre o gatilho – Não é por você, é por mim. - O telefone tocou, Katt quase 
atirou. Ela desengatilhou a arma e pegou o telefone
- Detetive Shams? – Era uma voz feminina
- Sim, sou eu. Quem está falando?
- Rua 17, nº 7. – Katt não pode deixar de notar que era uma voz sexy
- Quem está falando? – A linha cai. Katt continua com o telefone no ouvido, escutando os bips de uma 
linha interrompida. Ela colocou o telefone no gancho, pegou sua pistola e a guardou no coldre, levou a 
mão até o chá, mas o telefone tocou novamente, os dedos esticados se fecharam bruscamente, ela franziu 
o cenho para o telefone, pegou-o lentamente – Detetive Katt Shams.
- Detetive! – Era a voz de um homem desesperado – Preciso de sua ajuda!
- Jayus? 
- Sim, sim! – Do outro lado da linha, ele parecia chorar – Preciso da sua ajuda! 
A detetive se largou na poltrona.
- Explique-se.
O som de vidro quebrando ecoou pelo outro lado da linha.
- Alguém está invadindo minha loja.
- Você está na loja? 
- Sim...
- E por que o alarme não está tocando? – Perguntou Katt de forma serena. Silencio – Você não tem 
alarme, né?
- Desculpe...
- Ligue para a delegacia, eu não sua segurança.
- O que?! Você sabe que ninguém confia na polícia! Eu só posso contar com você!!
Katt suspirou.
- Onde você está exatamente?
- No quarto dos fundos, acho que quebraram meus vidros. Espera, acho que ele foi embora. 
               Katt escutou uma porta ser arrombada, provavelmente com um chute, som de vidros se 
quebrando e os gritos chorosos de Jayus. A linha caiu. Katt ficou em silencio, não havia nada que 
pudesse fazer ali.
- Acho que ele morreu. – Pensou Katt – Onde fica aquela loja mesmo? – Silencio - Não... - Foi quando 
fez uma conexão, guardou o telefone no gancho. Minimizou o arquivo que estava escrevendo e 
procurou a loja de Jayus no Google - Rua 17, nº 7, cidade de Pripyat, PR/SP. – Silencio - filho da puta.
 
D&T Penhores. Quinta-feira, dia 13/03/2016, 00:37 da manhã.
               Detetive Shams para o carro do outro lado da rua, por mais estranho que possa parecer, ela 
dirigia um maverick laranja. Pripyat era uma cidade deslocada de tudo, possuía um clima “No Ar”, 
com seus letreiros vermelhos e lâmpadas incandescentes. A lua se destacava entre as poucas nuvens, 
Katt desceu do carro e observou a entrada da loja dali mesmo.
- Ele não pode ter entrado com um carro... – Murmurou Katt. Toda a vidraça estava estraçalhada, como 
se realmente um carro tivesse entrado ali. O número da delegacia estava salvo nos seus contatos, chegou 
a seleciona-lo, mas parou, seria só uma dor de cabeça, ela era uma testemunha no momento em que 
atendeu aquele telefone, se pudesse resolver aquilo por conta própria, seria melhor – É melhor que valha 
a pena...  - Katt abriu seu blazer cor de areia, por baixo estava seu revolver, no coldre preso na lateral 
das costelas, perto dos seios. Soltou a trava do coldre e atravessou a rua, os cacos de vidro estavam 
espalhados pela calçada, a rua deserta, havia alguns carros estacionados. A vidraça estilhaçada, as 
trolhas por traz da vitrine estavam espalhados pela entrada, o letreiro “D&T Penhores” estava apagado. 
A detetive entrou com a pistola nas mãos, a apontando para baixo, evitando pisar nos cacos de vidro. 
Era uma loja pequena, com uma quantidade bem grande de tralhas dentro de armários de vidro e 
pendurado nas paredes. A loja era repleta d eletrônicos, pratarias, joias, porcelanas, algumas armas 
de fogo mais escondidas, uma quantidade grande de relógios e peças antigas, como elmos medievais, 
sabres e mosquetes envernizados presos na parte mais alta da parede. A loja não possuía corredores, 
era uma sala com muita coisa exposta... e muita coisa no chão. Katt ouviu um gemido vindo de trás do 
balcão – Jayus? – Mais um gemido, sofrido e esticado, uma tentativa de fala. Na sala atrás do balcão, a 
porta entreaberta, lá dentro, uma figura deplorável estava estirada, com sangue escorrendo da cabeça, 
os braços tortos, gemendo e balbuciando – Seu avarento filho da puta, você nem tem câmeras de 
segurança.
 
Quarta-feira, dia 12/03/2016, 01:03 da manhã.
               Winston acendeu outro simon-ritchie, um cigarro com o filtro preto e de qualidade duvidosa, 
enxergava o mundo com a mesma podridão de sempre, porém com os buracos na alma preenchidos de 
um prazer que apenas a heroína lhe trazia. Winston era um sujeito magro, com um metro e oitenta, sem 
barba, com os cabelos pretos espetados para todos os lados, usava uma larga jaqueta e adereços em 
couro e metal, destaque para a grossa corrente no pescoço. Seus olhos eram de um negro penetrante, 
o rosto magro e pálido, para uma fuinha, ele não era nada fofo. Não tinha dinheiro para comprar um 
revolver, então se contentava em carregar canivetes nos bolsos. Trazia uma mochila puída 
de alças compridas nas costas, com tralhas e objetos de valor. Não era um mendigo, tinha 
uma quitinete no prédio em que estava antes. 
As ruas estavam desertas.
- “Isso é errado Winston, é errado”    
- Foda-se... 
- “Isso é errado Winston, é errado”
- Foda-se...
- “Isso é errado Winston, é errado”
- Não preciso dos seus conselhos, não preciso da sua ajuda. – Acende outro cigarro – 
Não sou mais seu filho, então cale a boca e me deixe chapado em paz. – Winston 
tropeça, bate contra a parede de um beco, escorrega pela parede e cai entre sacos de lixo
 

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